Por Brenno Ribas, advogado e docente de Direito do UniFavip Wyden
Nos últimos dias, a Câmara dos Deputados tem se movimentado para discutir possíveis mudanças no sistema político brasileiro. Além da proposta de adoção do semipresidencialismo, também está em debate a implementação do voto distrital misto nas eleições proporcionais, o que alteraria a forma como elegemos deputados federais, estaduais, distritais e vereadores. O protocolo de uma e a criação de uma comissão para debater a outra fez ambas as propostas ganharem destaque nos noticiários desta semana. Diante dessas discussões, surge a necessidade de compreender melhor as diferenças entre o sistema atual e os modelos que podem ser adotados.
Atualmente, o Brasil adota o
sistema presidencialista, no qual o presidente da República é ao mesmo tempo
chefe de Estado e chefe de Governo. Isso significa que ele representa o país
internacionalmente e, ao mesmo tempo, tem o poder de administrar o governo
federal, nomear ministros e conduzir políticas públicas. O presidente é eleito
diretamente pelo povo para um mandato de quatro anos e tem autonomia para tomar
decisões, embora precise do Congresso Nacional para aprovar leis e medidas que
impactam o país. No entanto, sua permanência no cargo só pode ser interrompida
em situações graves, como crime de responsabilidade, o que pode levar a um
processo de impeachment.
No modelo
semipresidencialista, o presidente continuaria sendo eleito pelo povo, mas
teria um papel mais voltado à representação nacional, funcionando como uma
espécie de "moderador" do sistema político. A principal mudança seria
a criação do cargo de primeiro-ministro, que seria responsável por governar e
administrar o país no dia a dia. O primeiro-ministro seria indicado pelo
presidente, mas precisaria do apoio do Congresso para assumir o cargo. Caso o
governo perdesse apoio parlamentar, o primeiro-ministro poderia ser substituído
sem a necessidade de um impeachment – bastaria que o Congresso aprovasse uma
moção de desconfiança. Na prática, isso significaria que o Congresso teria mais
influência na condução do governo, podendo trocar o primeiro-ministro caso
considerasse necessário. Além disso, crises institucionais poderiam ser
resolvidas com mais agilidade, já que, no modelo atual, um processo de impeachment
tende a ser longo e desgastante.
A Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) do semipresidencialismo foi protocolada no site da Câmara
dos Deputados nesta quinta-feira (6 de fevereiro de 2025), depois de conseguir
179 assinaturas. O autor da proposta é o deputado federal Luiz Carlos Hauly
(Podemos-PR). Com o protocolo, a PEC pode começar a tramitar oficialmente na
Casa. O texto ganhou força depois que Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente
da Câmara dos Deputados, defendeu a existência de um debate sobre o tema.
Além da discussão sobre o
sistema de governo, a Câmara também vai criar uma comissão especial para
debater um projeto que propõe a implementação do voto distrital misto. Essa
PEC, de autoria do ex-senador José Serra (PSDB-SP), tramita na Câmara desde
2017 e agora avança com a decisão de criação da comissão especial para discutir
o projeto de lei que altera a legislação eleitoral. O modelo do voto distrital
misto é uma alternativa ao atual sistema proporcional, no qual os votos são distribuídos
conforme o quociente eleitoral dos partidos, o que muitas vezes leva à eleição
de candidatos com base no desempenho da legenda e não necessariamente na
votação individual de cada candidato. No sistema distrital misto, cada eleitor
votaria duas vezes: uma vez em um candidato de seu distrito eleitoral e outra
vez em uma lista fechada apresentada pelos partidos. Metade das cadeiras seria
ocupada pelos candidatos eleitos diretamente nos distritos, e a outra metade
seria preenchida com base na votação da lista partidária.
A principal diferença entre
os dois sistemas está na forma como os representantes são escolhidos. No modelo
atual, os votos são somados e distribuídos proporcionalmente entre os partidos,
o que pode resultar na eleição de candidatos com poucos votos individuais,
desde que sua legenda tenha uma boa votação geral. Já no voto distrital misto,
parte dos representantes seria eleita diretamente pelos distritos, tornando o
vínculo entre eleitor e eleito mais próximo, enquanto a outra parte garantiria
a representatividade dos partidos no cenário nacional. Essa proposta visa
equilibrar os benefícios do sistema distrital, que aproxima os eleitos da
população, com os do sistema proporcional, que assegura diversidade política no
parlamento.
A PEC do
semipresidencialismo e a PEC do voto distrital misto ainda precisam passar por
longos debates e tramitações antes de qualquer mudança ser efetivada. Enquanto
a primeira acaba de ser protocolada e pode começar a tramitar, a segunda já tem
um avanço maior, com a criação de uma comissão especial para discutir seu
mérito. Ambas as propostas envolvem mudanças profundas na estrutura política e
eleitoral do país, e o acompanhamento desse debate é essencial para entender os
rumos que o Brasil pode tomar nos próximos anos
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