Novo Plano Diretor do
equipamento define que o zoológico passa a focar suas iniciativas na
preservação de animais da Caatinga, Mata Atlântica e zonas de transição da Mata
Atlântica
O Zoológico do Recife,
localizado dentro do Parque de Dois Irmãos, vai assumir um posto de destaque no
apoio às ações de conservação da fauna nativa da Caatinga, Mata Atlântica e das
zonas de transição da Mata Atlântica (ecótonos de cerrado e campos sulinos). A
Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas/PE) –
responsável pela administração do espaço – apresentou, nesta quarta-feira (14),
o novo Plano Diretor do equipamento que o reposiciona como uma instituição
conservacionista. Transmitido pelas redes sociais, o anúncio contou com a
participação do secretário da Semas, José Bertotti; o presidente da Agência
CPRH, Djalma Paes; da presidente da Associação de Zoológicos e a Aquários do
Brasil - Azab, Cláudia Igayara; da pesquisadora e professora da UFRPE, Maria
Adélia de Oliveira; além da gerente Geral e do gestor técnico de fauna do
Parque, Paula Falbo e Márcio Silva, respectivamente.
O
documento desenvolvido pela equipe técnica da Semas e do Parque é baseado em
dois anos de estudo e segue modernos conceitos na área ambiental. Entre as
novidades, ele define como nova missão do equipamento: promover a conservação
da fauna dos biomas Mata Atlântica e Caatinga, além das áreas de ecótono de
Mata Atlântica por meio de ações de conservação ex situ, educação ambiental e
pesquisa científica, e - associado a isso - propiciar a reconexão da população
pernambucana com esses biomas. Assim, o zoológico passará a ter uma atuação
mais focada na preservação da biodiversidade local, adotando como pilares e linhas
de trabalho: conservação, educação ambiental, pesquisa científica e lazer
educativo.
“Estamos
promovendo uma ousada e necessária mudança no zoológico do Parque de Dois
Irmãos. A biodiversidade em Pernambuco, assim como no mundo, enfrenta ameaças crescentes
devido à mudança do clima, à degradação do habitat natural, e ao comércio
ilegal da vida selvagem. A responsabilidade de mudar isso passa por nós. Então,
vamos adequar e potencializar os instrumentos disponíveis para proteger a
riqueza natural do nosso estado da extinção. Vamos aumentar o foco do trabalho
desse equipamento de forma a gerar resultados positivos na conservação e
maximizar o impacto no meio ambiente e nas pessoas”, defendeu o secretário de
Meio Ambiente e Sustentabilidade, José Bertotti.
A
presidente da Azab, Cláudia Igayara, destacou que o anúncio do plano representa
um momento emblemático para o tradicional equipamento pernambucano e o colocará
como referência. “Esse plano diretor é a coroação de um esforço de técnicos e
gestores para encontrar a vocação do Parque de Dois Irmãos. O fato de se optar
por trabalhar com a fauna regional, tão importante e única, foi um grande
amadurecimento, trazendo a visão que temos hoje do que deve ser um zoológico
que realmente contribua com a conservação, educação e proporcione um lazer de
qualidade, sempre primando pelo bem-estar dos animais. É isso que toda a
instituição precisa fazer: repensar seu papel na sociedade e encontrar sua
vocação”, disse.
Com
as novas atribuições, o zoo passa a investir num planejamento de populações de
espécies abrigadas, inclusive prevendo ações de reprodução de animais ameaçados
de extinção. Todo esse trabalho se dará com indivíduos sem condições de retorno
à vida livre, exigência hoje já adotada pelo Parque para a recepção de animais.
A ideia é que o planejamento favoreça as ações de conservação ex situ (aquelas
realizadas fora do lugar de origem do bicho, num processo de proteção de
espécies em perigo). Isso também vai gerar apoio a iniciativas in situ, ou seja, aquelas
promovidas nos ambientes naturais, como o repovoamento de áreas verdes a partir
da reprodução em cativeiro.
As
ações de revigoramento populacional de espécies terão em vista os biomas foco
da instituição, podendo brindar todas as Unidades de Conservação de Pernambuco,
em especial o Parque de Dois Irmãos, e também UCs de fora do Estado. A medida
atenderá estudos ambientais sobre populações selvagens e ocorrerá de forma
conjunta com a Agência CPRH. “Vamos nos espelhar em experiências vitoriosas
como o trabalho cooperativo entre instituições que possibilitou reintroduções e
melhoria do status de conservação de outros animais. Nosso objetivo aqui é
atuar para salvar as populações selvagens”, pontuou Bertotti.
Mudanças no plantel - O
perfil de animais abrigados pelo zoológico vai mudar, ocorrendo a saída de
algumas espécies e a chegada de outras. Atualmente, o plantel soma 380
indivíduos de 91 espécies, pertencentes a diversos biomas brasileiros e
estrangeiros, além de enxames de abelhas. A perspectiva é que permaneçam no
espaço apenas os indivíduos nativos da Caatinga, Mata Atlântica e zonas de
transição da Mata Atlântica. Assim, os animais exóticos poderão ser
encaminhados a outras entidades mantenedoras de vida selvagem, devidamente
regularizadas e capazes de fornecer igual ou melhor condição de bem-estar aos
bichos. Isso abrirá espaço para a recepção de novos animais vindos de outras
instituições conservacionistas e do Cetas Tangara.
Para
tanto, a Semas criou um plano de populações, que divide os animais em quatro
categorias: Adoção (a serem transferidos, integrando programas de adoção);
Acolhimento (apenas manutenção); Embaixador (reprodução conforme necessidade
dos programas de conservação); e Foco (integrantes dos programas de
revigoramento populacional). A medida visa facilitar a gestão das iniciativas
conservacionistas a serem desenvolvidas pelo equipamento público, assim como a
transição do plantel. A chegada e a saída de animais ocorrerão gradualmente,
obedecendo o plano de ação com lista de prioridades, checagem das instituições
receptoras e doadoras, além de divulgação das etapas para o público.
O
plano aponta a possibilidade de transferência de 135 indivíduos, de 31
espécies, hoje abrigadas no zoológico. Os primeiros a deixarem o espaço já estão
definidos. São eles: o casal de ursos-pardos que será acolhido pelo Rancho dos
Gnomos (em São Paulo); o pavão-branco pela Unicap, mutum-de-bico-azul pelo
Criadouro Sérgio Polezel (em São Paulo). Por outro lado, a equipe do Parque
está trabalhando para o recebimento prioritário de 23 espécies, de pequeno a
grande porte. Entre eles estão: a jacucaca, lontra, jacutinga, ema,
onça-pintada.
“Fizemos
um estudo de viabilidade que avaliou 170 espécies (91 já existentes no parque).
Aprovamos 136 espécies que podem ser trabalhadas ou abrigadas pelo zoo, dentre
invertebrados, anfíbios, peixes, répteis, aves e mamíferos. Não há um prazo
para a conclusão desse processo de transição do plantel, pois a garantia do
bem-estar dos animais é a prioridade”, afirmou o gerente técnico de manejo de
fauna do Parque e veterinário, Márcio Silva. De acordo com ele, os animais que
vão para adoção mesmo na casa nova serão monitorados, pois o repasse deles será
a título de empréstimo. Se as condições de bem-estar sofrerem alteração, eles
poderão ser reavidos.
Reconectando o público - O novo Plano Diretor do
zoológico visa ainda valorizar e reconectar o público com as riquezas naturais
do Estado. Para tanto, prevê a redistribuição de animais dentro da área do
equipamento, agrupando-os por biomas. Trata-se de uma forma de fazer o público
vivenciar o passeio pelo equipamento, entendendo a fauna de uma maneira mais
complexa, sob uma nova perspectiva. “Queremos preparar a população para uma
mudança de cultura, saindo da observação passiva para a importância de
conhecer, valorizar e preservar a nossa biodiversidade. O Parque de Dois Irmãos
é um museu vivo da flora e da fauna, capaz de gerar empatia e encorajar as
pessoas distantes da natureza a se tornarem mais engajadas na proteção da vida
selvagem e seus habitats”, defendeu o secretário José Bertotti.
Durante
o evento, a Semas pontuou que o parque segue fechado, mas estão sendo adotadas
medidas do ponto de vista administrativo e estrutural (melhorias e sinalizações
específicas), pensando numa reabertura segura. O trabalho foca em evitar a transmissão
da Covid-19 dentro do equipamento entre os visitantes e também de seres humanos
para os animais das espécies sabidamente suscetíveis à doença, como felinos e
primatas. Esse trabalho tem envolvido o diálogo com entidades do setor, como a
Azab, e da área de saúde.